A Batalha Por Lunazul - Parte I - O caos em harmonia

Escrito por Rafael Braga | | Posted On sexta-feira, outubro 26, 2012 at 15:06



Minha história começa num dia de Domingo. É fim de tarde. Acabei de revisar os relatórios acumulados durante a semana. Como de costume, me deito em frente à janela. Desde pequeno gosto de observar o céu, quando era criança fazia isso só para saber se estava tudo bem por lá, se não tinha algo caindo – eu realmente acreditava que um dia cairia alguma nave do céu bem encima de mim – com o tempo, contemplar o céu se tornou um hábito, me deixava relaxado, sempre gostei do fim de tarde em Júpiter-II. Reclinei-me na poltrona, aumentei levemente o volume da música. Minha mente já estava longe... Eis que minha paz acaba:
– Victor! Você ta aí cara? Abre isso logo cara. – As batidas de Bernard na porta da minha cabine eram como um terremoto destruindo meu pôr-do-sol. – Victor!?
– Só um minuto, já vou! – De nada adiantaria me recusar, ele continuaria ali.
Toquei na holografia diante de mim e a música foi substituída pela ríspida voz sintética: - 'Holografia desativada'. – lentamente o cenário do lado de fora voltava ao habitual, não que eu não goste do espaço, das estrelas, mas quando isso é tudo que você vê durante cinco meses... Abri a porta.


– Hei Victor, vendo essas pornografias? – disse Bernard, usando de seu refinado senso de humor – Digo, Holografias! – completou rindo.
– Na verdade não, eu estava... Horas, eu não te devo explicação, vai dizer o que quer de uma vez? Ou será que não consegue ficar muito tempo sem me encher a paciência?
Apesar da brincadeira, Bernard era um bom amigo, para ser sincero, o melhor amigo que eu já tive. Nunca fui um garoto normal, passava mais tempo lendo arquivos históricos e assistindo as holografias de ficção, do que brincando com as outras crianças. Embora não fosse um sociopata, era bem difícil manter uma conversa com os garotos da minha idade. Quando conheci Bernard na academia das Forças Federais, passávamos horas conversando sobre a história da Federação, sobre a expansão colonial das galáxias, mas principalmente sobre as guerras entre Júpiter-I e a Terra e como Júpiter II unificou a Federação, – e claro,  sobre as holografias de ficção-científica antigas e a mitologia de heróis vigilantes. –  eram nossos assuntos preferidos. 
– Vamos andando Victor, precisam de você na sala do comando central. – Disse Bernard.
– Hum, você adora ser portador de boas notícias. – Tentei brincar com a situação, mas não consegui esconder a surpresa, o que poderiam querer de mim? Eu já tinha feito todo trabalho que me cabia, verificado os relatórios de navegação, a manutenção da minha nave pessoal, já que era tudo que precisava naquele dia. Bernard tentou amenizar minha preocupação:
– Fique tranquilo, eles provavelmente chamaram você por algo que eu fiz de errado, afinal você é meu superior imediato, já esqueceu? Só espero que não tenham descoberto a câmera escondida na cabine da Tenente Shepard.
– Eu te deportaria para a Terra só pela ideia absurda. – Eu sabia que uma reunião aquela hora não se tratava disso, embora Bernard fosse um perito em engenharia e nano-mecatrônica, e soubesse consertar qualquer aparelho, ou pior, invadi-lo, seria improvável que qualquer pessoa quisesse ver as intimidades daquela múmia da Tenente Shepard. Mas como sempre Bernard me fez rir.
Saímos em direção ao pátio principal. A visão calma e aconchegante da minha cabine ficara para trás, agora ao contrário, avistava a imensa movimentação de pessoas que nunca findava naquela nave. Eu nunca consegui vislumbrar esta visão sem me sentir maravilhado; Técnicos de navegação em suas mesas calculando dados intermináveis, controladores de trafego passando coordenadas para os pilotos de caça que faziam simulações de combate do lado de fora da nave. Bem perto dali, soldados conversando todo tipo de besteira. Era a imagem do “caos em harmonia”.
Continuamos a andar e, em meu pensamento, a mesma sensação do primeiro dia de viagem: “A Sagga é a nave mais maravilhosa do universo inteiro!” – E era. – A sensação de olhar para o alto e ver a imensidão de cabines, laboratórios, e os mais diversos tipos de salas especiais, onde uma população inteira de funcionários da Planetária Inc. respirava, dormia, trabalhava e vivia.
A nave era linda. Elevadores translúcidos corriam em todas as direções, no alto uma imensa cúpula deixava-nos observar as constelações. Subíamos em direção ao comando central quando Bernard disse:
– Tem outra coisa!
– Hã? O que disse? – fiquei confuso, como alguém que desperta e tenta se lembrar sobre o que sonhara.
– Eu não te disse tudo. Talvez eu saiba porque nos chamaram.
A essa altura o elevador chegava a parte mais alta da nave de onde conseguíamos observar tudo ao redor. Fiquei confuso, mas antes que Bernard pudesse explicar, me virei e vi. Eram os cubos.
Os cubos são naves gigantes, que transportam água para os planetas que não tem esse recurso naturalmente. Eles não são tripulados, fazem um percurso ininterrupto, dos planetas até as luas congeladas. Utilizam um sistema parecido com o das formigas, se deslocam em uma espécie de “fila” baseado na rota do que vai logo a frente. Mas o mais importante; Os cubos foram responsáveis por salvar a espécie humana no passado e posteriormente pela expansão colonial. Isso sempre fascinou a mim e a Bernard. Éramos da Força Federal, tínhamos uma carreira relativamente promissora, em Júpiter II, porém, aceitamos sem pestanejar o convite para trabalhar na Planetária Inc., a empresa que explora a extração de água em toda Federação.
– Uau! – Disse eu.
– Fascinante, não é?
– Sim. – concordei – Já tinha visto rotas de extração no quadrante Dois, mais isso...
– É meu caro, essa é a maior rota de extração do universo, onde fica concentrado a maior parte dos planetas congelados.
Nunca tinha visto algo tão impressionante, cubos iam e vinham na maior harmonia, a sincronia era perfeita.
– Espera... – me dei conta que ainda não era para estarmos no Quadrante nove.
– Isso mesmo – Bernard deduziu.- Estamos à uma semana de Lunazul.
Nesse momento o sistema de comunicação interno, nos interrompeu: - “ Os líderes de esquadra são solicitados no Comando central.”
...





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